“Municípios precisam se organizar para vacinação contra Covid-19”, diz médica infectologista

O Governo Federal divulgou o plano para vacinar a população contra a Covid-19 e de acordo com o Ministério da Saúde, o processo será centralizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a doença é um documento com diretrizes que tem objetivo de apoiar os Estados e municípios no planejamento e organização da vacinação.
E, por isso, tivemos um bate papo exclusivo com a médica infectologista, Raquel Stucchi, para comentar pontos específicos dessa proposta. Raquel também é professora doutora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
“SUS vai ter prioridade nas vacinas produzidas no Brasil”, afirma Pazuello
Governo lança plano nacional de vacinação contra a Covid-19
Com a apresentação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, ficou comprovado que ainda não é um plano definitivo e que não responde a muitas perguntas sobre como realizar a campanha de vacinação. A opinião da médica infectologista é de que “na verdade é o início de uma organização com algumas diretrizes que precisarão ser mais detalhadas nas próximas semanas. Mas o plano já dá uma indicação de como será a vacinação contra a Covid-19, o que é um avanço neste momento tão tumultuado sobre a situação do Brasil em relação a essa doença”, afirmou.
Há meses o Governo Federal tem se posicionando no sentido de que vai prestar toda colaboração para que a vacina seja realizada, o que o plano deixa claro é que a logística de distribuição de vacinas vai ser feita da mesma forma como todas as campanhas elaboradas pelo Programa Nacional de Imunizações. Em vista disso, a médica infectologista acredita que o papel dos municípios no plano de vacinação seguirá exatamente igual ao que se faz há anos.
“Os municípios precisam dimensionar o tamanho da sua população prioritária e avaliar qual a sua condição atual para fazer a vacinação. A partir disso elaborar estratégias como: estender o horário de funcionamento dos postos de saúde, além de quantificar as seringas e agulhas que precisarão ser usadas nessa ação”, explicou Raquel Stucchi.
O planejamento da vacinação nacional está orientado em conformidade com o registro e licenciamento de vacinas, que no Brasil é de atribuição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme Lei nº 6.360/1976 e outros regulamentos técnicos. Diante disso, fica o questionamento se a aprovação das vacinas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pode ser um obstáculo para uma efetiva imunização no Brasil.
Para a professora, é exatamente o contrário “é a validação da Anvisa que nos dá segurança para que a vacinação seja realizada em massa na população brasileira. Por isso é fundamental ter essa análise e a aprovação da Agência, uma vez que é o órgão responsável por essa verificação no Brasil”, destacou.
Segundo o plano brasileiro, o início da vacinação está previsto para fevereiro de 2021. Isso deixa 4 meses para vacinar todos os grupos prioritários e, em seguida, 12 meses para imunizar o restante da população. Desta maneira, a médica acredita que esse tempo pode ser suficiente para a imunização contra a Covid-19, mas “tudo vai depender dos acordos firmados com os produtores de vacinas. E nisso cabe destacar que nós talvez sejamos o País mais atrasado na formalização de acordos para compra de vacinas”, comentou.
Sobre a necessidade do imunizante precisar de 2 doses tomadas em um intervalo de tempo para fazer efeito e se isso pode gerar dificuldade na imunização, a especialista explicou que “a vacina ideal seria a de dose única e com benefícios como: quantidade suficiente e proteção de forma prolongada. Mas, infelizmente, não temos uma vacina assim. O sucesso da imunização também é responsabilidade dos estados, municípios e população”, avaliou.
Por fim, em relação à exigência de assinatura do termo de responsabilidade para quem tomar a vacina com status de uso emergencial, a médica acredita que isso seja desnecessário. “Um documento desse tipo não justifica. Mesmo as vacinas em uso emergencial, aprovadas pelos órgãos regulatórios, são certificadas de sua segurança. É diferente de alguém que resolve participar de um teste para uma vacina que está chegando, o que não é o caso. O que pode fazer sentido, para o Governo exigir um termo de responsabilidade, é um documento assinado pelos cidadãos que se recusam a tomar a vacina ou que não adotam as medidas de prevenção, afirmando que se ficarem doentes não vão ocupar leitos de hospitais”, declarou.
Em entrevista exclusiva ao portal Brasil61.com médica infectologista, Raquel Stucchi, fala sobre o plano nacional de vacinação contra o coronavírus
Fonte: Brasil 61