Por Sandra Brito (Professora e escritora)

O Manneken Pis é um monumento localizado no Centro de Bruxelas, na Bélgica. Trata-se de uma pequena fonte em bronze, que retrata um menino urinando em uma pia. Normalmente quem vê a imagem como símbolo da cidade, imagina logo uma estátua grandiosa – tanto no tamanho quanto é na fama – mas decepciona-se ao saber que a figura mede apenas 61 centímetros.

A inspiração para a criação da estátua remonta ao fim do século XII, quando o filho de um duque teria sido encontrado urinando contra uma árvore no meio de uma batalha e teria, por isso, transformado-se em símbolo da coragem militar do país.
Criado em 1388, o Manneken Pis é um dos símbolos mais representativos e queridos de Bruxelas. A imagem está localizada na parte antiga da capital belga, entre as ruas L’Etuve e Chene, perto da Grand Place.

A primeira menção ao Manneken Pis que se tem notícia pode ser encontrada em um texto administrativo de 1451, que aborda a questão do fornecimento de água para as fontes de Bruxelas. A fonte sempre ocupou um lugar de destaque para o fornecimento de água potável aos moradores da cidade. As únicas representações dessa primeira estátua podem ser encontradas em uma pintura de Denis Van Alsloot, que demonstra uma procissão em Bruxelas no ano de 1615, na qual a estátua se destaca entre a paisagem. Em 1619, a primeira estátua foi substituída por uma nova versão em bronze.
No decorrer dos séculos, a estátua passou por muitos ataques. No entanto, ela permaneceu intacta ao bombardeio do exército francês a Bruxelas no ano de 1695, embora o fornecimento de água da fonte tivesse sido afetado e interrompido durante algum tempo. A resistência da estátua ao ataque fomentou, ainda mais, o caráter simbólico da coragem e da resiliência do povo belga.

Após o conserto do encanamento da fonte, a estátua foi recolocada em sua posição de origem com a seguinte passagem bíblica: In petra exaltavit me, et nunc exaltavi caput meum super inimicos meos (“O Senhor me colocou sobre uma base de pedra, e agora eu levanto minha cabeça sobre meus inimigos”).
Algumas mudanças foram feitas ao redor da estátua, ao longo dos anos. A coluna, a bacia retangular, o jardim de pedra e a estrutura protegida por cercas, são alguns exemplos. Várias foram as tentativas de roubo da imagem, seja pelo valor do bronze, seja pela ideia de sorte e força que ela transmitia.

Em 1747, ocorre um fato no mínimo curioso. O exército francês tenta novamente tomar a estátua para si. Na época, a população ficou tão revoltada que obrigou o Rei Luís XV a se retratar. A solução encontrada foi mandar fazer uma roupa para o menino, bordada a ouro, como forma de amenizar os danos e reaver a paz entre os dois povos. O rei também permitiu que a estátua portasse uma espada, e a decorou com a cruz da Ordem de São Luís. Desde então, a estátua passou a receber roupas em diferentes momentos e por inúmeras razões, principalmente relacionadas às datas festivas do país. Hoje, o Manneken Pis possui mais de 650 trajes.

Em 1817, um ladrão chamado Antoine Licas furtou a estátua e a despedaçou em onze partes. Como punição pelo ato, o ladrão foi preso e condenado a trabalho forçado pelo resto da vida. A estátua foi restaurada a partir dos pedações recolhidos e coberta por nova camada de bronze. Após muitos outros furtos, a estátua passou a ser conservada no segundo andar do Museu da Cidade de Bruxelas, na Grand Place. No seu antigo lugar, foi instalada uma réplica, exatamente a que vemos hoje, como um dos maiores pontos turísticos da Bélgica.

O mais importante de tudo isso é entender a história que motivou a criação da estátua, para então compreender que ela também representa a coragem e a liberdade de pensamento do povo belga. Ponto imperdível de visitação para quem pretende conhecer Bruxelas.