Maior tragédia socioambiental de Petrópolis completa um mês hoje (15)

Richard Stoltzemburg/Redação Correio da Manhã
Trinta dias se passaram e a dor da tragédia permanece por toda a cidade. O mal cheiro da lama que está ainda espalhada por diferentes pontos de Petrópolis. As pontes quebradas e as localidades interditadas relembram o cenário quase que de guerra que deixou 233 mortos, e quase 700 pessoas desabrigadas ou desalojadas. Quatro pessoas ainda desaparecidas, entre elas o Pedro Henrique, de apenas oito anos. As famílias ainda aguardam por uma solução do poder público nos 20 abrigos temporários. O dia 15 de fevereiro de 2022 hoje representa apenas perda e dor e marcará parta sempre a história da Cidade de Petrópolis.
Foram 258 milímetros de chuva em menos de duas horas. Um fenômeno descrito até por especialistas como incomum. “O esperado para o mês de fevereiro era de 240 milímetros e no dia da tragédia choveu mais que isso. Algo que realmente não era esperado! O fenômeno é extremamente raro e ocorre devido a uma pressão baixa na região. Além disso, a umidade e o relevo contribuem para a formação dessa pressão. Esse nível pluviométrico não era registrado desde 1940. O fenômeno El Ninho tem contribuído para as chuvas regulares, principalmente nas Regiões Sul e Sudeste do país.A tendência é que nesse período de janeiro e março, em que é mais chuvoso naturalmente, tenha ainda mais volume de chuva nessas regiões“, disse a meteorologista do Inmet, Marlene Leal.
Regiões devastadas pelos mais de 4.800 deslizamentos. A dor de quem perdeu familiares, o descaso das autoridades com a população e as incertezas para o futuro. Este é o cenário um mês após a tragédia. As buscas pelos desaparecidos permanecem no Morro da Oficina e às margens do Rio Quitandinha.
Cerca de R$ 36 milhões em verbas já foram repassados pelos Governos Federal e do Estado para Petrópolis. Além disso, uma portaria publicada no Diário Oficial da União fornece crédito extraordinário de R$ 478 milhões para às cidades atingidas por desastres naturais. Mesmo assim ainda não há clareza em como e onde todo esse dinheiro será aplicado. A publicação foi feita no dia 24 de fevereiro. Para receber o crédito, o município deve encaminhar os planos de trabalho que vão ser feitos. Mesmo assim ainda não há clareza em como e onde todo esse dinheiro será aplicado.
Benites Carlos da Silva tem, 68 anos, cresceu no Morro da Oficina e criou toda a família por lá. Ver diariamente tanta destruição não tem sido fácil. “É muito difícil morar aqui porque todos eram amigos, família. Os bens materiais a gente recupera, mas as vidas não. Provavelmente eu devo sair daqui! só sobrou minha casa em pé e de um vizinho. Então não tem como ficar. Antes de acontecer, a gente conversava sentado em banco. Falávamos de futebol, dos problemas, da igreja… Permanecer aqui é como estar em um deserto sem as pessoas que antes eu via todos os dias”, lamentou.
Diante de tanta destruição a alternativa é mesmo ir embora. “Meu irmão e sobrinha devem ir para Rio da Ostras então provavelmente irei junto. No dia em que tudo aconteceu estava em casa, e se o deslizamento tivesse atingido a minha casa, toda a minha família teria morrido. Vai ficar marcado em nossa memória as pessoas pedindo socorro, o barulho da chuva, os gritos e depois o silêncio ensurdecedor”, relembrou.