Tragédia que assolou Petrópolis completa dois meses nesta sexta-feira (15) e pouco foi feito para atenuar os prejuízos provocados pelas chuvas

População cobra medidas efetivas do poder público para combater destruição e ter chance de recomeço
Dois meses, duas fortes chuvas, prejuízos incontáveis, três pessoas ainda desaparecidas e 241 vítimas fatais. Esses são os números que marcam Petrópolis desde a maior tragédia que já assolou a cidade. O município mostra sinais de recuperação econômica, mas só o tempo vai ser capaz de levar parte da dor de quem viveu aquele dia.
Cento e sessenta e cinco pessoas ainda estão sendo atendidas em nove abrigos provisórios pela cidade. Segundo a prefeitura, todas as pessoas estão incluídas no programa Aluguel Social, que já totaliza 1.923 famílias inscritas, mas muitas ainda não conseguiram novos lares. É o caso da costureira Josiele Carvalho, que está até hoje está desabrigada. Ela passou por dois abrigos diferentes e neste momento está na casa de um irmão, já que ainda não conseguiu o Aluguel Social.

“Eu fiquei na Igreja Santo Antônio por 10 dias. De lá mandaram a gente para o Morin e 10 dias depois pediram para a gente encontrar um lugar para ficar. A prefeitura nos garantiu que eles nos colocariam em um apartamento na Floriano Peixoto ou no Floresta. Até hoje não conseguimos casa porque ninguém aceita Aluguel Social”, explicou ela.
Josiele teve a casa interditada no Morro da Oficina, local que registrou o maior número de vítimas fatais. No dia da tragédia, sua família passou por momentos de pavor. “No dia 15 morreu o meu irmão e minha irmã. Minha casa caiu e perdemos tudo. Eu estava com meus filhos em um bar que também caiu. Meus filhos ficaram soterrados. Meu esposo ficou soterrado em casa. Graças a Deus, meus filhos e meu esposo saíram com vida”, contou ela.
Durante todo este período, mais de 205 mil toneladas de detritos foram retiradas das ruas pela COMDEP. Esse número é a soma dos entulhos deixados pelas chuvas dos dias dia 15 de fevereiro e 20 de março. Mesmo com o trabalho de desobstrução das vias, ainda há treze ruas interditadas e o trânsito segue caótico. Outras sete ruas estão operando em meia pista, livres para veículos leves ou apenas liberadas para moradores. Com vias principais interditadas, essas ruas seguem atuando com o sentido invertido para atender o fluxo de veículos.

A Defesa Civil concluiu mais de 6 mil laudos de vistorias, das mais de 9 mil e 700 ocorrências registradas. Desse total, a maior parte foi por deslizamentos e mais de 2 mil e 800 atingiram diretamente imóveis por cerca de 60 localidades afetadas. De todas as ocorrências cadastradas, mais de 3 mil e 600 ainda estão em andamento.
“Dois meses já e a gente não consegue recomeçar. De abrigo em abrigo e dependendo da ajuda das pessoas. Cinco vezes já que eu me desloquei. Meus filhos não tem um ponto de referência para chamar de lar”, contou Josiele.
