386 famílias vivem hoje nas ruas de Petrópolis: número cresceu 20% na pandemia

Raphaela Cordeiro

Petrópolis é considerada a quarta cidade do Estado com o maior número de pessoas vivendo em situação de rua. Principalmente para quem anda nas ruas do Centro Histórico, é comum ver pessoas acampando nas esquinas. Mas o que muita gente não sabe é que, mesmo com as intervenções da Guarda Municipal, estas pessoas não são obrigadas a aceitarem ajuda e serem levadas para os abrigos.
Existem, hoje, 386 famílias em situação de rua inscritas no Cadastro Único de Petrópolis. Desde 2020, esse número aumentou em vinte por cento. Mas qual é o principal motivo para que essas pessoas passem a viver nas ruas? A psicóloga Leandra Iglesias, que já trabalhou diretamente com esta população, explica os principais motivos. “Um dos principais motivos é a quebra do vínculo familiar. Em geral, o fator álcool e drogas também está presente. As famílias vão ficando co-dependentes e vão se exaurindo. Na população de rua a gente tem perfis de toda a espécie. A gente tem artista, empresário, ex-administrador, de tudo um pouco…”, explicou a psicóloga.
A psicóloga conta ainda que, com o sofrimento destas pessoas e o uso das drogas, há também o transtorno mental, que é um outro motivo. Leandra conta que o medo e o preconceito do resto da população precisam acabar porque, em cada uma daquelas pessoas nas ruas e nas calçadas há uma história e um passado. “Falta um olhar diferenciado da sociedade, desrotulando essa população. Tem de tudo, claro que tem, mas são pessoas e são seres humanos em sofrimento, em necessidade urgente de ajuda”, disse.

Auxílio à população em situação de rua

Petrópolis sendo a quarta cidade das 92 cidades do estado com o maior número de pessoas em situação de rua, tem também muitas iniciativas tanto independentes quanto da própria prefeitura, para auxiliar esta população. A terapeuta Fernanda Catete, que também já trabalhou com este público, tem hoje uma iniciativa própria de auxílio. Durante a pandemia, a terapeuta sentiu que precisava fazer mais por estas pessoas e começou uma iniciativa que segue realizando até hoje, com pouca ajuda e com recursos próprios. “A gente separa dois três dias da semana, de acordo com a agenda, e a gente desenvolve um diálogo com essas pessoas e entrega sopas e caldos. A gente procura ter um olhar mais carinho e não um ato só de dar a comida. Atos bem sutis como perguntar o nome e saber um pouquinho da história”, disse a terapeuta.
Assim como a iniciativa da Fernanda, em Petrópolis existem outras formas independentes de auxiliar a população de rua, que é o caso do Banho do Samaritano, que acontece semanalmente no Centro e em Itaipava. Das iniciativas oferecidas pelo município, a cidade conta hoje com atendimentos psicossociais, pedagógicos e de saúde, assistência no transporte para pessoas de outros municípios, alimentação e banho.
“Se a gente quer tirar essa pessoa da rua, a gente tem que pensar como a gente vai estruturar essa pessoa para a vida. A primeira coisa é pensar nos aspectos básicos. A questão profissionalizante também, para que ela tenha condições de se sustentar e se manter”, disse Fernanda.
A terapeuta acredita que o melhor auxílio que esta população pode receber é o olhar carinhoso. Só com a mudança de pensamento social e a quebra do preconceito é que as pessoas em situação de rua vão conseguir encontrar o seu espaço na sociedade e também a recolocação no meio laboral e no mercado de trabalho. “A maioria de nós somos muito preconceituosos. Muitos são adictos e tem tudo a ver com um processo de dor muito grande. Muitos deles tem que estar anestesiado para dar conta de estar frio… É enfrentar a fome e o frio. O excesso de álcool ameniza isso, mesmo não sendo nenhuma justificativa”, explicou.

Abrigamento

Apesar de existirem esses abrigos municipais, além de outras iniciativas independentes, as pessoas em situação de rua não são obrigadas a aceitarem o acolhimento. Muitos deles escolhem continuar na rua. Com as fortes chuvas que atingiram a cidade em fevereiro, o NIS, mais conhecido como Abrigão, no Alto da Serra, foi atingido por um deslizamento e está até hoje interditado. A prefeitura informou que mais de 30 caminhões de terra já foram retirados do local. Hoje, a prefeitura conta com o Centro Pop, no Centro da cidade e a Unidade de Abrigamento Temporário (Unat), no Retiro, para o acolhimento das pessoas em situação de rua.

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