Seis meses da tragédia de Petrópolis: saiba como estão as regiões do Caxambú e a Rua do Túnel, no Quissamã

Seis meses se passaram e quem mora na Rua Francisco Scali, no Quissamã, conhecida como Rua do Túnel, quase não viu mudanças em prol de uma recuperação. A região foi uma das mais atingidas durante as chuvas de fevereiro e março deste ano, em Petrópolis. Por ali, passa o Túnel Extravasor, que tem como função desviar as águas do Rio Palatinato em época de cheias, para que elas não se encontrem com o Rio Quitandinha, e provoquem enchentes no Centro da Cidade. Mas o equipamento não tem funcionado como deveria, devido à falta de manutenção, e com o volume das chuvas deste ano, parte dos mais de 3 km da estrutura, cedeu.

Hélito Fráguas sentiu na pele o descaso do poder público após a tragédia, devido à falta de intervenções de infraestrutura nas áreas mais afetadas. Depois da chuva do dia 20 de março, ele tentava ajudar um vizinho a retirar o veículo da garagem, quando parte do terreno em que estava cedeu. Ele e outro homem caíram de uma altura de aproximadamente seis metros. A partir daí, Hélito enfrentou uma verdadeira maratona em hospitais da cidade e passou por várias cirurgias devido as fraturas ocasionadas pelo acidente. Após quase cinco meses se recuperando das lesões, Hélito ainda terá que enfrentar mais algumas cirurgias.

“Não sabemos quando a situação será resolvida. As chuvas estão cada vez mais intensas, e o que foi feito de obra na região é resultado de um paliativo realizado em 1950. Eles priorizam o Centro Histórico em todas as intervenções que promovem e esquecem dos bairros”, disse o eletrotécnico, Hélito Fráguas.

Na manhã do dia 26 de julho, as obras de recuperação do Túnel Extravasor finalmente foram iniciadas. As intervenções de responsabilidade da Secretária de Infraestrutura e Obras do Estado (Seinfra), e do INEA estão sendo realizadas pela construtora Solidum.  Elas incluem a reforma estrutural, desobstrução e desassoreamento do Túnel Extravasor no Rio Palatinato. O prazo para a finalização dos trabalhos é de seis meses. Após os primeiros três meses, quando termina o período de estiagem, as intervenções também serão feitas fora do túnel.

“Eu queria saber mais sobre a obra, porque este início está muito lento e ficamos preocupados de não terminar a tempo e coisas piores acabarem acontecendo. As chuvas já estão voltando”, disse Hélito.

As intervenções custarão R$ 74 milhões e, atualmente 80 funcionários estão trabalhando nas obras, mas, segundo a Seinfra, assim que as atividades em outros pontos forem iniciadas a expectativa é que o efetivo de profissionais aumente. “A nossa expectativa é que antes do período de chuvasm, que ocorre em outubro, já tenhamos realizado a parte estrutural do equipamento. Isso vai tranquilizar principalmente os moradores do Quissamã, onde as casas foram as mais afetadas”, explicou o Secretário de Infraestrutura e Obras do Estado, Rogério Brandi.

Descaso e prejuízos no Caxambú

Já na região do Caxambú muitas pessoas ainda estão ameaçadas. Casas em risco e o cenário de destruição são o retrato do que aconteceu no mês de fevereiro. Algumas obras de contenção ficaram sob responsabilidade do Governo do Estado, mas os moradores garantem que ainda não é suficiente, já que, em outros trechos ainda não foi definido o que vai ser feito. “Todas as nossas ruas, servidões e vilas foram afetadas. A gente sabe que uma das 15 áreas mais afetadas vai ser recuperada pelo Estado, mas e o resto? Até hoje estamos sem nenhum posicionamento. Não está certo quem vai fazer o que”, explicou Edna Queiroga, presidente da Associação de Moradores do Caxambú.

Uma casa na parte baixa do bairro serve até hoje como ponto de apoio para os moradores atingidos. Lá, estão disponíveis roupas de todos os tamanhos para que, quem estiver cadastrado como morador da região, possa retirar o que precisar. Todo o trabalho é feito pela associação de moradores que recebe doações da sociedade civil.

Com os deslizamentos, três rochas caíram sobre a Rua Bartolomeu Sodré, durante a chuva do dia 15 de fevereiro. A via ficou interditada por quase 10 dias, impedindo o trânsito de pessoas e também a circulação de caminhões dos produtores que vivem na região mais alta do caxambu e dependem da via para levar as mercadorias até os compradores. Petrópolis tem quase 1.200 produtores rurais que, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro, geram cerca de R$ 18 milhões para a economia da cidade. E, 170 destes produtores, aproximadamente um terço do total, estão na região do Caxambú.

“A gente já vinha passando dificuldade durante a pandemia. O movimento estava muito baixo, os insumos subiram muito e nossos preços também precisaram subir. Com a tragédia não conseguimos descer com a carga e perdemos tudo o que seria vendido naquela semana”, explicou Joaquim Sergio Lage, produtor e presidente da Associação de Produtores do Caxambú.

Durante os dez dias após a primeira forte chuva, o acesso a região acontecia apenas pelo Bela Vista, via por onde caminhões não conseguem transitar. Mas, o presidente da Associação de Produtores do Caxambú, garante que este não é o maior problema enfrentado pelos produtores. “Na realidade já estava difícil e agora só piorou. As pessoas aqui não estão dando valor ao que têm. Elas colocam fogo no mato para limpar terreno e até para fazer trilha de moto. Ninguém pensa no quanto isso afeta o nosso trabalho. O Caxambú virou um verdadeiro lixão”, explicou Joaquim Sergio.

Assim como em outras regiões da cidade, a tragédia de fevereiro agravou ainda mais um problema que já vinha sendo enfrentado pelos moradores há décadas. Em Petrópolis, a história parece se repetir a cada forte chuva, pelo menos, desde 1952. Mas as vítimas e os estragos deixados são cada vez maiores.

Por Raphalea Cordeiro

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