Seis meses da tragédia: Petrópolis recebeu R$ 341 milhões e três pessoas permanecem desaparecidas

Mais do que os cenários de destruição, a tragédia que completou seis meses trouxe reflexos além de questões materiais. Atualmente, 3.917 petropolitanos dependem do aluguel social e durante os 180 dias, 349 pessoas receberam atendimentos de saúde mental associadas às catástrofes. Uma lembrança que jamais será esquecida. O último abrigo foi desocupado no fim de julho e foram registradas pela Defesa Civil 11.901 ocorrências. Por meio da Comdep, 400 mil toneladas de detritos foram retiradas, mas muito ainda precisa ser feito.

Petrópolis recebeu cerca de R$ 341 milhões após as tragédias

Governo Federal – Minist. Desenvolvimento Regional – R$ 13,6 milhões

Os recursos foram utilizados para pagar o aluguel de veículos para a Defesa Civil, compra de cestas básicas e eletrodomésticos, contenção de encostas e recuperação de vias públicas.

Campanha Petrópolis Solidária – R$ 297 milhões
A prefeitura utilizou o montante para comprar os Kits Mobiliário, que foi disponibilizado as famílias atingidas.

Alerj – R$ 30 milhões
Parte do valor foi utilizado para a recuperação de redes de drenagem e para a compra de um prédio no centro da cidade. Ainda de acordo com o município, 45 obras emergências de contenção foram realizadas, 32 estão em andamento e 36 em projeto de desenvolvimento.

O prédio na Floriano Peixoto, comprado para abrigar as famílias, continua fechado e as obras para a construção de 270 moradias populares na localidade do Caetitu, paradas. Mas ainda há outros problemas maiores em relação a tragédia. Seis meses se passaram e três famílias seguem sem respostas sobre os desaparecidos.

Lucas Rufino, de 21 anos, soterrado no Morro da Oficina, Heitor dos Santos, de 61 anos, arrastado junto com Pedro Henrique da Silva, de 8 anos, nos ônibus que caíram no Rio Quitandinha, seguem desaparecidos. Os exames de DNA, realizados pela Polícia Civíl, ainda estão em andamento e não há previsão para a conclusão dos resultados.

Pedro Henrique

“Seis meses, mas pra mim, é como se fosse se fossem seis dias. Eu não consigo voltar a trabalhar. Eu tô aguardando resposta… É desumano isso que eles fizeram. Mesmo sendo uma tragédia, fazer isso com a minha família é desumano”, disse Adalto Vieira, pai de Lucas Rufino.

A família de Lucas Rufino afirma que, em menos de 24 horas após o deslizamento, encontrou o corpo do rapaz nos escombros. Lucas foi retirado e entregue pelos próprios familiares às equipes de resgate do corpo de bombeiros, mas o IML não confirmou a identificação.

Lucas Rufino

“Depois dos quatro dias que eu fiquei no IML e me falaram que o corpo do Lucas não deu entrada lá, eu fiquei desacreditado. Como não foi dada entrada? Fomos nós que achamos ele, os parentes. Se tivesse sido alguém que não conhece, a noite e no escuro, tudo bem. Mas são da família, reconhecendo ele durante o dia. Nós descemos com ele nas costas e entregamos aos Bombeiros”, disse Adalto.

Adalto segue inconformado com o desaparecimento do filho. Ele ainda tem que lidar com o luto de ter perdido quase toda a família na tragédia. No dia do temporal ele saiu de casa com a esposa Eliane e a filha caçula de apenas seis anos, em busca de um lugar seguro. Assim que as deixou em um bar na entrada da servidão, o estampador voltou para buscar o filho. Ambos conseguiram sair do imóvel, mas no meio do caminho uma barreira de pedras e terra, que desceu do Morro da Oficina, arrastou Lucas. Desesperado, Adalto voltou para o bar e então veio o choque. O local havia sido destruído. Mãe e filha foram encontradas, já sem vida, em meio aos escombros ainda abraçadas.

Família de Adalto

A Polícia Civil afirma que, até o momento, não foi comprovada a entrada do corpo de Lucas Rufino no posto regional de polícia técnico-científica de Petrópolis. Assim como a de Lucas, outras famílias também continuam sem respostas. Rafaela, mãe de Pedro Henrique, de apenas 8 anos, aguarda até hoje o resultado de um exame de DNA para saber se o corpo de um menino encontrado é o do filho dela. O exame foi realizado no mês de março. A Polícia Civil informou que o tempo para o resultado do exame está diretamente ligado as variáveis do cruzamento de materiais genéticos e à complexidade do estado dos cadáveres e despojos.

“Imagine né, queria ver se fosse com a família deles… Seis meses que me mandam ficar em casa esperando resposta, para me dar uma solução. Eles não me dão uma solução. Eu sei aonde está a minha esposa e minha filha, mas cadê o Lucas? Esses caras querem me ganhar no cansaço”, finalizou Adalto, emocionado.

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