David de 30 anos, atua como motorista de aplicativo em Petrópolis e criou a música “15 de fevereiro”, após uma das maiores tragédias socioambientais já registradas na cidade. Assim como muitos, no dia do ocorrido, ele presenciou dor, angústia, medo e destruição. E, mesmo assim conseguiu ajudar a prima, moradora do Morro da Oficina, a retirar os moveis da casa onde ela vivia e que foi parcialmente danificada.

De acordo com David Oliveira, a música tem o objetivo de lembrar o dia 15 de fevereiro, mas de uma forma reflexiva, para que as autoridades se mobilizem e impeçam que outras tragédias aconteçam. Parte da música retrata o cenário daquele fatídico dia, como os ônibus arrastados na Rua Coronel Veiga que levavam entre tantos passageiros, o jovem Gabriel, que morreu tentando ajudar outras pessoas.

Sete meses se passaram e duas pessoas ainda permanecem desaparecidas, sendo Lucas Rufino de 21 anos, que estava no Morro da Oficina, e Heitor de Castro, de 61 anos, que estava em um dos ônibus arrastados pela enxurrada.

Além disso, vias da cidade permanecem interditadas até hoje na localidade do Siméria, Valparaíso e Independência. Para todos os petropolitanos a chuva continua sendo motivo de preocupação, inclusive para o compositor.

“O objetivo da música é lembrar as autoridades, que elas devem fazer mais pelo povo, e que precisam ter um olhar mais atento as políticas de prevenção a desastres naturais, para que novas tragédias não voltem a ocorrer na cidade. A produção da música levou alguns dias e hoje estou bem feliz com o resultado. Foi um processo que aos poucos foi tomando forma”, informou David. Na quinta feira (15), a música foi publicada no Instituto Gabriel.

Localidades como o Morro da Oficina, Chácara Flora, e Vila Felipe ainda apresentam muita destruição do dia 15 de fevereiro, mas como na música, em que as notas aos poucos vão ganhando forma, Petrópolis também tenta se reconstruir. A esperança é que a cidade de pedra, de Pedro, volte a ser bela outra vez em sua totalidade.

Letra da música “15 de fevereiro”

Eu vim de lá de onde a serra vê o mar
De onde a chuva cai pra germinar
Não pra alagar

Eu vim de lá cidade de pedra
Cidade de Pedro
Segundo o que eu ouvi falar

Mas quem chorou
Chorou com razão
Quando seu chão desmoronando
Partiu coração

E lá no morro da oficina
Todos estão olhando o céu
Estão lembrando Gabriel
Que deu a mão
Que deu a vida
A quem nunca viu

Hoje o céu limpou
Hoje o sol saiu
Ano que vem chegar verão
Quem já passou estenderá a mão
Aos céus pedirá ajuda e proteção!

Eu vim de lá
Eu vim de lá

Por Richard Stoltzenburg/Por Thiago Alvarez