Vítimas das tragédias em Petrópolis denunciam desinterdição de casas em situação de risco

Mesmo após quase nove meses, os moradores de Petrópolis principalmente das regiões afetadas pelas tragédias, ainda sofrem com as consequências das chuvas deste ano. Em localidades como o Alto da Serra, em que morreram aproximadamente 158 pessoas, ainda é possível notar sinais do maior desastre socioambiental já registrado no município.

No dia 20 de setembro, a Prefeitura de Petrópolis divulgou no Diário Oficial, que 34 pessoas receberam a informação de que as casas em que viviam antes das tragédias, que foram interditadas por apresentar riscos, foram liberadas. A aposentada Cristina da Conceição da Silva, garante que o imóvel em que vivia há mais de 30 anos na Servidão Raul Malaquias, ainda não está seguro.

“O sentimento é de abandono e descaso. Parece que não somos ninguém, só porque morarmos no morro, somos pobres… A sensação que passa é que por causa da nossa condição social, eles acham que não precisamos de informações. Eles jogam a gente de volta para o morro e se acontecer alguma coisa nós viramos apenas números. Vieram tantos profissionais aqui e constataram que as condições não são boas, como eles podem assinar um documento permitindo o retorno com o lugar desse jeito? Eu não me nego a voltar para minha casa, mas quando eu voltar quero deitar na minha cama e dormir sem preocupações”, esclareceu ela.

Cristina morava com o filho antes da tragédia. O imóvel fica entre outras oitos residências, e todas foram interditadas por oferecerem risco aos moradores. Apenas a dela foi liberada. Outra dúvida e receio da moradora é com relação as vítimas que foram contemplados com o aluguel social. Isso porque os contratos de locação dos imóveis, que se tornaram moradias provisórias, têm duração mínima de um ano. E, em caso de anulação do acordo de locação será aplicada multa de rescisão.

“Ninguém me avisou nada! Quando eu vi meu nome eu fiquei nervosa. Temos um contrato com os proprietários do imóvel e o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), eu não sei o que será feito”, desabafou Cristina.

O nome da dona de casa Debora Januária também está listado no Diário Oficial. Ela morava em uma servidão, no Alto da Serra, com a família e agora ela espera apenas por respostas.

”As vidas que foram perdidas por aqui parecem que não são suficientes. Eu sou nascida e criada aqui, amo a minha comunidade e amo o Alto da Serra. É impossível não nos sentirmos negligenciados diante dessa situação. Parece que desde o dia 15 de fevereiro a nossa vida parou. Eu não me oponho de voltar para cá, mas eu quero voltar com segurança, e nenhuma obra concreta foi feita. A gente sabe que a verba entrou, eu queria saber dos governantes, ou de quem desinterditou estes imóveis, se eles estariam tranquilos dormindo aqui com seus familiares?”, falou ela.

Por Gabriel Faxola

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