Moradores do Vale do Cuiabá ainda aguardam moradias após 12 anos das tragédias

Hoje (11) faz 12 anos da maior tragédia climática registrada na Região Serrana do Rio de Janeiro. Diante disso, na última quarta-feira (10), o Correio Petropolitano Debate entrevistou as moradoras da localidade do Vale do Cuiabá, em Petrópolis, Cristina Rosário de Oliveira e Cláudia Renata de Almeida, que vivenciaram as chuvas do dia 11 de janeiro de 2011. De acordo com a Defesa Civil do Estado foram 918 mortes e 99 desaparecidos e cerda de 35 mil pessoas desabrigadas. Após o período, alguns ainda permanecem sem moradia e com incertezas.
Ainda de acordo com o órgão, Teresópolis teve 9.110 desalojados e 6.727 desabrigados, Petrópolis registrou 6.223 desalojados e 191 desabrigados; e Nova Friburgo contabilizou 3.220 desalojados e 2.031 desabrigados. Outros municípios como São José do Vale do Rio Petro, Sumidouro, Bom Jardim e Areal também registraram desabrigados e desalojados.
Em Nova Friburgo, a cidade que mais registrou óbitos no período o acumulado de chuva foi de 281 milímetros em oito horas. De acordo com Cristina, que foi responsável por criar o primeiro Núcleo de Defesa Civil de Petrópolis o Nudec Cuiabá, o cenário era de destruição. “É muito marcante para mim falar a respeito porque eu já tinha vivido em 2008 por uma enchente na região, vimos tudo indo embora, casas, eletrodomésticos, animais e pessoas. O estresse e a tensão eram tão grandes que na em 2008, eu estava grávida e perdi meu bebê. Três anos depois, tudo de novo, saí da lanchonete com a água no peito”, comenta.
Cláudia era vizinha de Cristina e relata que durante o ocorrido, a destruição chegou em minutos. “Eu estava em casa com meus filhos e os telefonemas começaram a chegar. Diziam que o Vale do Cuiabá tinha acabado e em menos de dois minutos, o que a correnteza carregou da parte de cima da localidade, começou a aparecer na nossa frente. Me recordo que uma casa inteira foi carregada pelo rio. Não tinha energia elétrica e ficamos em uma laje vendo tudo ser levado”, explica.
Foi com o objetivo de levar capacitação que Cristina deu início ao Núcleo de Defesa Civil na região, criado em 2012. “O Nudec surgiu pela Universidade Federal do Rio de Janeiro para sermos monitores socioambientais e o objetivo era termos esse núcleo porque as enchentes eram recorrentes e nossa população precisava se capacitar, conhecer a região e não esperar o governo fazer algo. Na época foram 12 homens e 20 mulheres. Logo depois o Coronel Rafael Simão adotou a ideia, porque de início o Nudec foi criado pelo estado. Atualmente 12 integrantes desde 2012 permanecem e hoje faço parte do Conselho Comunitário de Defesa Civil com o Coronel Kempers”, explica.
No entanto, quando se trata de habitação, as políticas públicas são falhas, visto que moradores das chuvas de 2008 e 2011 ainda aguardam pela casa própria. Na manhã da última segunda-feira (10), a prefeitura realizou a licitação para a conclusão das obras do Conjunto Habitacional da Posse. Logo após as tragédias de 2011, Cláudia deu início as ações de cobrança aos governos e há sete ano é representante do movimento do aluguel social e moradia de Petrópolis. “O Conjunto Habitacional da Posse ele é voltado para as famílias que foram atingidas em 2004, mas ainda não está pronto, são 24 famílias que ainda estão aguardando uma moradia, mas no que está pronto. Em 2018 foram entregues 94 apartamentos, mas ainda há problemas de infiltração e não temos nada de estrutura, uma área de convivência, uma recreação. Acreditamos que esses dois últimos blocos sejam entregues, se Deus quiser”, desabafa.
De acordo com Cláudia, que também faz parte da Comissão das Vítimas das tragédias, ainda faltam políticas públicas para obras e contenção de encostas. “É difícil de falar, porque apesar dos políticos, as coisas não são feitas. De 1960 pra cá, por exemplo, quantos prefeitos nós tivemos, quantos governadores e presidentes. Nós nos reunirmos para lutar para a região Serrana em relação a moradia. Em Areal as obras do conjunto habitacional estão quase finalizadas, mas existe uma morosidade, lentidão para fazer as coisas porque muda secretário, muda governo e mesmo que exista recursos, se não houver projetos, o valor não vai ser liberado”, comenta.
Atualmente, Petrópolis não tem uma secretaria de habitação e como consequência o município gasta R$4 milhões com o aluguel social e ainda há moradores que não são contemplados. “Há moradores das tragédias de 2011 que recebem R$500 mas hoje você não paga uma kitnet com esse valor, então precisa ser atualizado, mas os moradores ainda sofrem muito para recuperarem o pouco do que perderam”, afirma.
De acordo com a Defesa Civil de Petrópolis, as chuvas desse mês de janeiro, já registraram mais de 100 ocorrências e segue em estágio de observação. A Defesa Civil do Estado informou que já realizou 300 atendimentos desde a última sexta-feira (06).
Foto: arquivo TVC tragédia 2011