_Decisão do prefeito Rubens Bomtempo não tem apoio da Casa Legislativa_

Se a Câmara de Vereadores de Petrópolis tivesse poder de decisão sobre o reajuste da tarifa de ônibus na cidade, o aumento seria rejeitado por ampla maioria na Casa Legislativa. É o que aponta um levantamento realizado pelo grupo Correio da Manhã junto aos 15 parlamentares. Ao todo, foram 11 posicionamentos contrários ao novo valor, que passa a valer no domingo (30): de R$ 5,30 no dinheiro e R$ 5,15 no cartão Riocard.

Hoje, o reajuste passa pelo Conselho Municipal de Trânsito (Comutran), ligado à Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans). O grupo, no entanto, não é paritário e a maior parte das cadeiras é preenchida por membros do governo municipal e das empresas de ônibus. Com isso, o reajuste foi aprovado por ampla maioria, num placar de 17 votos a seis. Depois, foi levado ao prefeito Rubens Bomtempo, que confirmou o aumento.

Após a votação, a vereadora Júlia Casamasso (Psol) apresentou um projeto para modificar este rito. A parlamentar pede que sejam feitas audiências públicas para a apresentação das planilhas e que a Câmara Municipal vote para aprovar ou não o reajuste.

“Temos um serviço de transporte público muito deficitário, mas todo ano o valor da passagem aumenta; o serviço piora e a população segue desassistida. Entendemos que  é muito importante que haja pelo menos uma audiência pública para debater o reajuste do valor da passagem com toda a população petropolitana e que o reajuste seja debatido e votado pelos/as vereadores/as que foram eleitos/as para representarem o povo petropolitano e têm legitimidade para tal”, afirmou.

O Correio procurou todos os vereadores antes das 12h30 desta quarta-feira (26), com prazo de resposta até 16h30. Foi questionado se caso a Câmara votasse pelo aumento da passagem para R$ 5,30, se o voto do parlamentar seria a favor, contrário ou se absteria. Júnior Paixão (DC) e Léo França (PSB) não responderam.

Já o presidente da Casa, Júnior Coruja (PSD), se limitou a dizer que a decisão do aumento não passa pela Câmara. Diferente de outros pares, que tem feito diversas postagens sobre o reajuste, o vereador também mantém silêncio sobre o tema nas redes sociais. O deputado licenciado e secretário de Energia e Economia do Mar, Hugo Leal, também do PSD fez uma postagem sobre o tema e citou vereadores, mas não fez menção ao colega de partido.

Gil Magno não foi localizado para responder em função de problemas de saúde de um familiar.

O presidente da Comissão de Mobilidade Urbana e Transporte Público, Hingo Hammes (União) votou contra o aumento no Comutran e também se posicionaria desta forma na Câmara de Vereadores, caso o reajuste passasse pela Casa. Hammes afirma que o aumento vai gerar reflexos diretos também no sistema, com redução no número de passageiros, que tendem a buscar outros meios de transporte.

“A solução não é aumentar a tarifa, mas encontrar caminhos para tornar o sistema melhor e mais eficiente, com custo mais baixo. Aí entram, por exemplo, o vale-educação, que garante o custeio da gratuidade dos estudantes, e a transferência do sistema de bilhetagem eletrônica para a CPTrans, processo que começamos em 2021 e que precisa ter continuidade”, afirmou.

*O voto hipotético dos vereadores*

Vereador	Como votaria se a Câmara tivesse poder de decisão sobre o aumento da passagem	Justificativa
Domingos Protetor (PODE)	Contra	“Atualmente temos uma planilha de custo toda adulterada, feita de forma equivocada. Os ônibus hoje não oferecem um serviço de transporte de qualidade para a população. Pelo que é fornecido, a passagem deveria ser no máximo R$ 3,50.”
Dudu (MDB)	Contra	Não informou
Eduardo do Blog (Republicanos)	Contra	Em sua justificativa, Eduardo citou que o petropolitano paga uma das passagens mais caras do Estado e as empresas não cumprem o contrato. Além da redução da frota nas ruas, por conta da pandemia, retiraram também cobradores em diversas linhas, mesmo que estes profissionais constem nas planilhas utilizadas para justificar o reajuste.
Fred Procópio (PL)	Contra	“Apresentei e aprovamos um projeto que congela o aumento de tarifa para empresas que não cumprem o contrato, em especial, a renovação de frota. O governo ainda não sancionou, espero que o faça nos próximos dias. Mais um aumento de passagem em tão pouco tempo é absurdo! Saiu de R$ 4,20 para R$ 5,30 em pouco mais de um ano. Um aumento de 26%… nada aumentou tanto nesse período e não há qualquer justificativa que respalde esse cálculo.”
Gil Magno (DC)	Não informado.	Não informado.
Gilda Beatriz (PSD)	Contra	“Com toda certeza o meu voto seria contrário ao aumento da passagem. Ônibus sujos, quebrados, lotados, poucos horários e frota sucateada. Como aumentar a passagem se não temos ônibus de qualidade? Isso é um absurdo!”
Hingo Hammes (União)	Contra	“Seguimos com frota reduzida nas ruas e a população sofre com quebras e atrasos frequentes. E ainda assim as empresas terão direito a reajuste? Não concordo! Foram três reajustes em um ano e meio, com aumento total de 26%. A planilha que foi usada pelo município para conceder o reajuste desta última vez tem várias inconsistências, incluindo aumento exorbitante, de quase 500%, da remuneração da diretoria. Há também uma diferença no custo com motoristas, que aumentou 31%, percentual que é incompatível com o reajuste salarial que eles receberam, de pouco mais de 6%.”
Julia Casamasso (PSOL)	Contra	“Em Petrópolis já pagamos caro por um transporte que deveria ser garantido como direito, debater reajuste tarifário é discutir um sintoma de algo mais profundo. É preciso avançar em um modelo de transporte público gratuito, para toda a população, como já ocorre em Maricá, Vargem Grande Paulista e outros. É urgente pensar em novas formas de custear o transporte no nosso município que não seja onerando os trabalhadores.”
Junior Coruja (PSD)	Não respondeu.	“A decisão sobre o reajuste da tarifa de ônibus, hoje, não passa pelo Legislativo Municipal.”
Junior Paixão (DC)	Não respondeu.	Não respondeu.
Léo França (PSB)	Não respondeu.	Não respondeu.
Marcelo Chitão (PL)	Contra.	“Compreendemos que as empresas têm seus direitos, porém, é fundamental que os deveres também sejam rigorosamente cumpridos. Atualmente, o sistema se encontra deficitário, especialmente nas linhas operadas pelas empresas Viação Cascatinha e Petroita. Não podemos respaldar um aumento nas tarifas sem a implementação de mudanças significativas para melhorar o atendimento aos usuários.”
Marcelo Lessa	Contra	Não justificou.
Mauro Peralta	Contra	“Voto contra o aumento. Porém Petrópolis não comporta mais de 3 empresas de ônibus e a tarifa terá de ser subsidiada.”
Octávio Sampaio	Contra	“O serviço prestado pelas empresas é péssimo. Não mereciam sequer estar prestando o serviço, muito menos receber aumento.”

Texto e foto por Wellington Daniel