Impacto na segurança pública: instabilidade institucional causa efeito negativo em investigações criminais

O livro “Delegado de política: uma análise do fenômeno da politização da Polícia” da atual delegada na Secretaria de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Juliana Ziehe, aborda o assunto de como a instabilidade em cargos na Policia causa impactos negativos na segurança pública, principalmente em investigações criminais. Segundo a delegada, 90% das delegacias sofreram mudanças quando se troca o chefe de polícia.

Fruto da tese de mestrado na Universidade Católica de Petrópolis (UCP) em 2020, e lançado no dia 22 de julho de 2023, o livro da Juliana também analisa a relação político-partidária existente entre os órgãos policiais com agentes políticos integrantes da alta cúpula do governo. A nomeação de chefes de polícia expõe apenas a ponta de um iceberg da chamada politização da Polícia, que afeta o direito à segurança pública garantido a todos os cidadãos. Nesse sentido, as frequentes alterações dos gestores que estão à frente das polícias investigativas (em especial, da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro) geram um efeito cascata sobre toda a corporação e são acompanhadas da transferência de diversos policiais.

“Se um delegado de policia tiver que investigar o politico que integra a alta cúpula do governo, basta retira-lo do cargo para que essas investigações sejam de alguma forma prejudicadas”, explica Juliana, em entrevista ao Correio Petropolitano Debate.

Caso Marielle Franco

Um dos focos do livro é estudar estatisticamente três anos de Boletins Informativos da produtividade da Polícia sobre como essa instabilidade institucional influência nas investigações criminais. Juliana exemplifica as informações apresentadas com o caso da Marielle Franco. “Diante do assassinato da Marielle toda família e sociedade tem a expectativa que o crime seja resolvido. E até o final do estudo, cinco delegados já haviam atuados nesse caso. Essa mudança constante de delegados faz com que se rompa a continuidade investigativa e as interações com o Ministério Público”, explica. “Quando você é vítima de algum crime, a expectativa é de que o delegado de polícia vai conseguir apurar aquela investigação criminal”, enfatiza.

Quem é Juliana Ziehe?

Mestre no Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Católica de Petrópolis, na linha de pesquisa Processo e Efetivação da Justiça e dos Direitos Humanos (2022). Pós Graduada em Gestão Estratégica, Processos e Projetos Integrados na área de Segurança Pública pela COPPEAD/UFRJ, tendo concluído Curso Superior de Polícia Integrado na mesma instituição, com realização de módulo internacional na Colômbia (2018). Pós Graduada no Curso de Especialização em Direito pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (2015). Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis (2010). Realizou curso internacional Advenced Homicide Investigations Course na International Law Enforcement Academy San Salvador em El Salvador (2020). Atualmente é Delegada de Polícia na Secretaria de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal e Segurança Pública.

Por Gabriel Rattes

Compartilhe!

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.