Peça Teatral Casa das Margaridas dá voz a mulheres no Palco
A peça é inspirada no falatório de Stella do Patrocínio 

As histórias das mulheres no Brasil nunca foram dignamente contadas, mas não por falta de referências reais, mas sim por consequência da negligência de um sistema opressor que as silencia e invisibiliza diariamente. Pensando em quebrar o silêncio de tantas vozes, as atrizes Simone Gonçalves e Cleonice Fernandes construíram a peça teatral “Casas das Margaridas” inspirada na vida e falas da poetisa negra, Stella do Patrocínio, com o intuito de dar voz a mulheres da sociedade que foram e são apagadas e esquecidas. A peça vai estrear presencialmente no dia 14 de outubro, às 18h, no Centro de Cultura Raul de Leoni, a entrada é gratuita.

A dramaturgia da peça é inspirada na vida e nas falas de Stela do Patrocínio, uma mulher preta, pobre e louca, que viveu 30 anos à margem, trancada em uma instituição de tratamento psiquiátrico e recebeu uma única visita em toda sua vida. Stella foi detida pela polícia, quando caminhava por uma rua no bairro Botafogo, no Rio de Janeiro. Na ação ela foi pega e internada compulsoriamente no Centro Psiquiátrico Pedro II, aos 21 anos de idade. Logo após ela foi transferida para a Colônia Moreira (CJM), onde participou do projeto de criação artística realizado pelas psicólogas Denise Correa e Marlene Sá Freire, a ação promoveu oficinas de arte. Em uma dessas oficinas ela foi gravada por uma fita cassete, falando sobre suas experiências na vida, fazendo ecoar em suas palavras como a sociedade seguia um viés normatizador, patriarcal e racista que se valeu do modelo médico para excluir e calar as pessoas que se diferenciavam do modelo Hegemônico. Esse material foi nomeado pela Stella como o “Falatório”.

A Casa das Margaridas nasceu através de um desejo das atrizes de ecoar e dar visibilidade às vozes de mulheres que nunca antes ouvidas, as duas, escolheram um recorte social baseado na vida de Stella do Patrocínio, após terem acesso a textos da mesma, em uma oficina teatral. O experimento traz a importância de ouvir o falatório de Stela e de tantas mulheres da sociedade, que se sentem sufocadas com o sistema criado a séculos atrás, onde foram ensinadas a satisfazer o patriarcado ignorando as suas próprias vontades e desejos.

Em cena as atrizes falam sobre arte e sobre elas mesmas de maneira poética, levando suas histórias de vida ao palco. “Nossa intenção é fazer o público questionar os poderes, quem tem o poder de fala na mão. O objetivo é fazê-los pensar em um recorte racial, se Stella do Patrocínio fosse branca e tivesse andando em Copacabana, e de repente gritasse no meio da rua por que perdeu os óculos escuros, ela teria sofrido o mesmo?” , disse Simone Gonçalves, atriz.

No cenário de violência no país as mulheres negras continuam sendo as vítimas da opressão do sistema machista e racista estrutural que está enraizado na sociedade que não aceita o diferente da norma padrão. Indo contra essa ideia, a Casa das Margaridas traz a reflexão de que se é necessário falar e ouvir histórias de mulheres, dando destaque às poesias de Stella do Patrocínio, trazendo à tona as vozes consideradas loucas ou fora do encaixe da norma social. “Nós entendemos que é preciso resgatar e reverberar nossas histórias para que elas não se apaguem.”, relatou as atrizes, Cleonice Fernandes e Simone Gonçalves.

Leandra Lima – Estagiária

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