Bebê de seis meses é esquecida em centro educacional infantil de Petrópolis

Na última quinta-feira, dia 7 de março, Carol Pereira viveu um verdadeiro pesadelo. Mãe da pequena Maytê, de apenas seis meses, Carol relatou por meio das redes sociais que a filha havia sido esquecida dentro do Centro Educacional Infantil Irineu Marinho, em Corrêas. No vídeo, ela conta que deixou a bebê na creche, por volta das 7h10 e seguiu para o trabalho. Por volta das 16h30, ela afirma ter ligado para a creche avisando que se atrasaria um pouco, já que o horário de saída era às 17h.
“Eu cheguei na Praça de Corrêas às 16h45. Desci correndo e fui buscar minha filha, que saia às 17h. No meio do caminho eu encontrei com a educadora Ester, que me disse que minha filha não estava na creche e que ela já tinha ido embora. Na hora eu fiquei desesperada porque eu ainda não tinha ido buscar”, disse Carol.
Carol afirma ainda que precisou voltar para casa por não ter créditos no celular, e então, entrou em contato com todas as pessoas autorizadas a buscarem a bebê na creche. Todas elas afirmaram que não tinham buscado Maytê no CEI Irineu Marinho. Carol voltou a entrar em contato com a educadora Ester, que a orientou a ir até a creche e que já havia entrado em contato com a diretora, que também estava a caminho.
“Chegando de volta na escola, a diretora chegou desesperada abrindo o portão e minha filha estava lá sozinha, dormindo na creche. A sala estava muito calor, tudo fechado e minha filha coberta e de sapato. Graças a Deus minha filha está bem e não aconteceu nada com ela”, disse a mãe de Maytê.
De acordo com Carol Pereira, havia 30 funcionários trabalhando no CEI no momento em que a filha foi esquecida em uma das salas. Ela conta ainda que a filha ficou mais de uma hora sozinha em uma sala fechada e abafada. Diante do ocorrido, Carol afirma que vai tomar todas as providências necessárias para responsabilizar as pessoas envolvidas no caso, para que a situação não volte a acontecer com nenhuma outra criança.
Procurada, a assessoria de comunicação da prefeitura de Petrópolis afirmou que o prefeito Rubens Bomtempo determinou a exoneração e o afastamento imediato das servidoras envolvidas na denúncia de negligência. A nota diz ainda que a secretaria de educação já registrou boletim de ocorrência na 105ª Delegacia de Polícia e abriu um inquérito para apurar o caso.
Educadoras denunciam situação nos CEIs
A situação é grave e evidência inúmeras falhas no sistema educacional de Petrópolis. Algumas educadoras nos procuraram inclusive para denunciar as condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais que atuam nos Centros Educacionais da cidade. As funcionárias, que terão a identidade preservada, nos informaram que os salários e vale-transporte estão constantemente atrasados, que faltam mais profissionais para realizar todo o trabalho necessário, e que eles nunca conseguem apoio psicológico, mesmo solicitando à direção. Justamente porque também faltam psicólogos.
“Dentro desse tempo que eu trabalhei na Secretaria de Educação, sendo educadora, eu vi muitas coisas erradas como funcionária e como mãe, porque meu filho também estuda na rede. O governo do Bomtempo precisa correr atrás desses prejuízos”, disse uma das denúncias.
Uma das denunciantes afirma que a profissional exonerada por conta do caso com a bebê Maytê chegou a pedir auxílio psicológico à diretoria do centro educacional Irineu Marinho, identificada como Débora, por estar se sentindo esgotada, mas não recebeu a ajuda desejada. A denúncia aponta ainda que os centros educacionais não tem a estrutura necessária para receber os alunos, como alimentação e higiene básica. “As crianças estão nos CEIs comendo biscoito de polvilho velho porque o setor de nutrição falou que as crianças não podem comer açúcar dentro da escola. Mandam biscoito de polvilho velho, um cacau amargo para beber e as crianças não comem. Vai um momento de coisa para o lixo, porque as crianças não conseguem comer o que é oferecido”.
Os relatos apontam também que os educadores já vinham enfrentando problemas com a então diretora do centro educacional. As denúncias relatam discussões e ofensas, além da falta de produtos básicos como papel higiênico, gás de cozinha e até água. Algumas destas educadoras, inclusive, pediram demissão dos cargos no início deste ano. “Eram duas meninas novas, que nunca tiveram filhos e a diretoria falando que elas conseguiriam dar conta. Tudo isso a Secretaria de Educação sabia e não tomou providência de nada. Educadora trabalhando sozinha com 9 crianças, um absurdo”, relatou outra denunciante.
“Ela dizia: recolha-se à sua insignificância, o meu salário é maior que o seu, e outras. Ela consegue fazer com que a gente fique coagido, com medo de falar qualquer coisa. É impossível trabalhar com uma pessoa que não tem controle de si”, disse outra denúncia.
A nossa equipe voltou a pedir um posicionamento da Prefeitura de Petrópolis a respeito das denúncias feitas por educadoras da rede municipal, mas até o fechamento desta edição, não obtivemos retorno.
Por Raphaela Cordeiro