Vias no entorno dos terminais rodoviários estão precárias

Pesquisa da UFRJ faz análise do trânsito em Petrópolis
Por Gabriel Rattes
Um estudo realizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizou um diagnóstico do sistema viário de
Petrópolis. De acordo com o levantamento, de todas as 49 ruas do entorno dos cinco terminais
rodoviários de Petrópolis, apenas uma obteve avaliação considerada como “boa”. Todas as outras apresentaram condição “regular”, “ruim” ou “péssima”. Foram avaliados pontos de: atratividade visual; conforto; continuidade; segurança; e seguridade.
Em 2023, foi firmado o contrato de número 249/2022, entre a Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans) e a UFRJ, pelo valor de R$ 875.613,11, com o objetivo principal de elaborar um diagnóstico do trânsito e transporte público na cidade de Petrópolis. Levantando também indicadores que apresentassem os pontos críticos. Neste mês de agosto foram divulgados pela CPTrans os documentos do estudo.
Dos 294.813 habitantes estimados pelo Censo, cerca de 46.600 habitantes, ou seja, apenas 16% da população se encontra em uma distância considerada confortável para o acesso por caminhada aos terminais de ônibus. Já de acordo com pesquisas do COPPE, com usuários do transporte de ônibus na cidade, grande parte das pessoas acessam os terminais a pé, quando comparados aos outros meios: Centro (42,7%); Itamarati (19,5%); Itaipava (14,9%); Corrêas (5,5%); e Bingen (4,6%). O modo de acesso “a pé” somente fica atrás do “ônibus municipal”: Bingen (93%); Corrêas (88,7%); Itaipava (82,2%); Itamarati (79,6%); e Centro (55,8%).
O estudo tem o objetivo de analisar todo o sistema de mobilidade urbana da cidade, com o foco de propor soluções para uma melhor qualidade do transporte coletivo. Um dos relatórios do documento, avaliou e diagnosticou a mobilidade a pé nas principais vias perto dos cinco terminais rodoviários de
Petrópolis (Bingen, Itamarati, Centro, Corrêas e Itaipava). Para isso, foram utilizados cinco critérios: atratividade visual – limpeza e obstruções na calçada, presença de sombra e abrigo; conforto condições da pavimentação, largura da calçada; continuidade da calçada; segurança – relação entre pedestres e veículos; seguridade – iluminação.
Pesquisa com os usuários dos terminais
Para uma primeira avaliação, o estudo realizou pesquisas com usuários do transporte de ônibus nos terminais rodoviários. Ao caracterizar as respostas como “negativa” (péssimo e ruim), “neutra” (regular) e “positiva” (bom e ótimo), os terminais Itaipava e Corrêas apresentaram um maior índice de percepções negativas sobre os aspectos analisados, enquanto os terminais Itamarati, Centro e Bingen apresentam maior variação e equilíbrio entre as respostas recebidas. Enquanto isso, a avaliação “ótimo” não foi apresentada em nenhum contexto, exceto nas variáveis de iluminação e largura da calçada no Terminal Bingen.
Pesquisa in loco
A equipe de pesquisa da COPPE também realizou uma análise in loco sobre a situação das vias em torno dos terminais. De modo geral, as vias avaliadas obtiveram uma classificação baixa, variando entre “regular” (43% das vias avaliadas), “ruim” (40% das vias avaliadas) e “péssimo” (15% das vias avaliadas). Sendo: Terminal Bingen – duas vias com avaliação regular e uma ruim; Terminal Centro – dez vias com avaliação regular, oito ruins e uma boa; Terminal Itamarati – quatro vias com avaliação péssima e quatro
ruins; Terminal Corrêas – uma via com avaliação péssima, três ruins e duas regulares; e Terminal Itaipava – uma via com avaliação péssima e três regulares. Das 49 ruas analisadas, apenas uma delas apresentou resultado positivo. Os Terminais Itamarati, Itaipava e Corrêas foram os que apresentaram as notas mais
baixas nos critérios de avaliação, sendo os únicos terminais com calçadas apresentando o nível de serviço “F” com a condição “péssimo”.
O critério “continuidade” é o que possui menor pontuação dentre todos. “Isto se dá pelo fato de que este critério considera, entre outros aspectos, a largura da calçada e a presença/ausência de sinalização podotátil, importante recurso de acessibilidade universal previsto em Normas Técnicas da ABNT (NBR 9050 e NBR 16537) para prover segurança, orientação e mobilidade a todas as pessoas, principalmente àquelas com necessidades especiais em decorrência de deficiência visual ou surdo-cegueira”, enfatizou o documento. Segundo o estudo, apenas um trecho da calçada da Rua Paulo Barbosa e a calçada da Rua do Imperador apresentaram este recurso.
Quanto ao aspecto “segurança”, o segundo com pior avaliação no geral, identificou-se que as calçadas possuem guias baixas e vários pontos de conflito com veículos como acessos a garagens e estacionamentos. “Inclusive houve ocasiões em que os veículos se encontravam estacionados em cima da calçada”, diz um trecho do estudo. Já o critério de “seguridade” não demonstraram bons resultados por conta da quantidade de veículos estacionados próximo ao meio fio e por conta da falta de poda de vegetação em algumas regiões.
O item “conforto” apresentou baixa avaliação, de acordo com o estudo, por conta da topografia acidentada de Petrópolis. “Presença constante de desníveis abruptos nas calçadas, o que prejudica a circulação principalmente de Pessoas com Deficiência, crianças e idosos. As condições do pavimento, em geral, também foram tidas como insatisfatórias apresentando rachaduras ou trechos com pavimento inexistente”, explica.
Por último, o critério “atratividade visual” obteve a melhor avaliação dentre os demais avaliados. “Deve-se, em parte, pelo próprio critério de seleção das vias para o levantamento em campo, que considerou, além do perímetro de influência dos terminais (raio de 1km) e a classificação viária (arterial ou coletora), a concentração de serviços urbanos essenciais como comércio, escolas ou atrativos como parques e áreas de lazer de importância, dentre outros”.
Soluções
O estudo da UFRJ também tem o objetivo de indicar possíveis soluções para as situações analisadas. Dentre elas está: atualizar o Plano de Mobilidade existente; padronização de calçadas; definir responsabilidade pelas áreas de calçada e fiscalizar a manutenção das mesmas; instalação de calçadas em ambos os lados da via sempre que possível; vias exclusivas para pedestres (como calçadões e quarteirões fechados), com proibição de circulação de veículos motorizados em áreas centrais; implementação de faixas exclusivas de ônibus e ciclovias; reduzir velocidade viária em determinadas regiões; e incentivar viagens a pé e por bicicleta.
Enquanto isso, a Prefeitura de Petrópolis apresentou uma proposta para a criação de quatro novos terminais rodoviários na cidade para aumentar o índice de acesso por caminhada aos terminais de ônibus. Um no Retiro – em frente à 105ª Delegacia de Polícia Civil- , no Bingen – onde atualmente funciona parte da secretaria de obras -, no Alto da Serra e no Quitandinha. Questionada sobre a avaliação das vias, apresentada pelo estudo da COPPE, não obtivemos resposta por parte da Administração Municipal.