Petrópolis pode ser representada na COP30

Por Leandra Lima

A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30), vai acontecer este ano de forma inédita no Brasil, em Belém do Pará. O encontro que reune líderes mundiais, ligados à política, ciência, tecnologia, organizações não governamentais e a sociedade civil, é o principal evento que discute ações para combater o efeito e o impacto da mudança do clima. Acontecendo dentro do território brasileiro, a COP30 carrega um importante significado onde os olhos estarão voltados para o país, que apresentará projeções sobre os impactos do clima dentro da sociedade brasileira. É com essa percepção que o Instituto Todos Juntos Ninguém Sozinho (TJNS) quer levar Petrópolis para a conferência, destacando a vulnerabilidade da cidade frente os desastres socioambientais, reforçando a importância da criação de políticas de enfrentamento. “Petrópolis é um dos municípios mais vulneráveis do Estado do Rio de Janeiro, com o maior número de mortes causadas por questões socioambientais. Com isso penso, porquê de não estarmos falando sobre a COP. Precisamos ter representantes dessa cidade nesses espaços de discussão e promover uma amplitude do problema”, explicou Pamela Mércia representante do TJNS.

Os dados mostram a urgência de tratar o assunto, em 2024, o município liderou o ranking nacional, como local com maior número de ocorrências de deslizamentos e inundações. Nos últimos anos aconteceram grandes episódios em solo petropolitano que ficaram guardados na memória, como o fatídico 15 fevereiro e 20 março de 2022. Na ocasião uma tragédia socioambiental atingiu a cidade, deixando 235 mortos e cerca de quatro mil desabrigados. O cenário levanta um debate sobre o modelo de “pólis” que a região está inserida, pois há um grande histórico de desastres, como o Vale do Cuiabá em 2011, que deixou 72 mortos.

Todos esses recortes fazem com que o desejo de Pamela em levar o TJNS para a COP30 se torne ainda maior. “Desde que eu estudo meio ambiente, sempre tive vontade de fazer parte dessas conferências, enquanto profissional e estudante, só que eu nunca tive recurso pra isso. E de 2022 pra cá, depois da chuva, como comecei a ter muito contato com ativistas, fui me tornando uma ativista, com organização de movimentos, eu vi que muitas organizações já estavam indo, já estavam discutindo, já estavam colocando as suas demandas nesses espaços.

Quando comecei a ter esse contato, vi que já tinha uma galera do Rio levando as questões de calor extremo, e até a própria violência policial pra COP, mostrando como esses impactos se relacionam com vulnerabilidade, desigualdade e mudanças climáticas. E à medida que o Instituto Todos Juntos Ninguém Sozinho faz esse trabalho, fomos nos estruturando como uma organização melhor. Estávamos falando de mudanças climáticas, tragédias causadas pelo clima e desigualdade social. Com isso percebemos que é necessário ocuparmos mais os espaços de fala e representar Petrópolis”, explicou.

O intuito é causar uma mudança na visão popular da cidade, na esfera política e social que só trata as questões enquanto problema aparece e esquece de manter as ações. Além do desejo de causar um impacto nas estruturas. “Qual é o impacto que a gente precisa? Políticas públicas eficazes. Quando todos perceberem que há acesso à escuta ativa, à elaboração de diálogos, formulações de propostas e soluções, fora do município, vai causar uma comoção. E aí, as esferas terão que dar uma atenção maior. Ressaltando que precisam ouvir mais”, disse a representante do TJNS.

Foco

O instituto atua dentro das comunidades do município, levando palestras, aulas e outros serviços à população, com a temática climática. “Dentro das comunidades, o nosso trabalho é baseado no território. Quando entro, levo uma “aula”, vamos chamar assim, planejada, mas que se adapta com base no que observo ali. Cada território tem um perfil. Quando chego, observo a realidade, vejo a linguagem que vai funcionar, uso a problemática local para abordar o tema. Por exemplo, pra falar de racismo ambiental, uso o transporte público e o deslocamento. E explicou que isso também é racismo ambiental. Aí eles dizem: “Ah, então eu sou vítima disso!” Porque ali não tem água, não tem coleta de lixo, e por aí vai”, explicou Pamela.

A partir da abordagem a população começa a entender onde estão inseridos no meio social, e passam a enxergar possíveis mudanças. “Hoje estamos criando essa política de enfrentamento, que não é o TJNS que está propondo, mas sim os territórios. O TJNS está só levando essa voz para o Legislativo. O impacto vai ser muito maior quanto mais pessoas nós alcançarmos” ressaltou Pamela Mércia.

No cenário atual a representante do TJNS, enfatiza que está tentando avançar na política, articulando projetos com o legislativo. O instituto foi o responsável por construir junto com a frente da Coletiva Feminista Popular a lei Nº 4730/2023 que institui o Dia Municipal de Enfrentamento ao Racismo Ambiental no calendário municipal da cidade. O projeto é de autoria da ativista em conjunto com a vereadora Julia Casamasso (PSOL) representante da Coletiva Feminista.

Mostrar na COP30

Com a trajetória ativista na Cidade Imperial, Pamela ressalta que conseguiram reconhecimento, porém é preciso ter diretrizes eficazes contra o problema. Pensando nesse aspecto, o TJNS quer levar para a COP30 um projeto chamado Serra Acima, um documentário que já foi gravado e está em fase de pós-produção. A obra aborda injustiças socioambientais no Brasil com foco em Petrópolis. “Queremos mostrar como Petrópolis reflete o Brasil. No filme resgatamos a história do povo negro e indígena da cidade, e também falamos das chuvas, do histórico de tragédias”, expressou.

O objetivo de levar a mostra é que ela seja um instrumento de educação climática, assim sendo exibida em todos os estados do Brasil. Para a ativista, essa é uma forma de colocar Petrópolis no centro das questões ambientais. “O Serra Acima é uma ferramenta para incentivar a criação de políticas públicas”, concluiu.

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