Escritora petropolitana atravessa mares e derruba fronteiras

Entrevista Sandra Brito

publicado por Redação TVC

 

(Professora, escritora e, agora, apresentadora de tv) J  

Beth: Hoje vamos entrevistar uma pessoa que conheci há algum tempo e já a entrevistei pessoalmente no nosso Programa Original, na época em virtude do lançamento do seu livro O tom confessional e autobiográfico na epistolografia de Machado de Assis. Como tem sido, desde então, a repercussão da sua obra?  

Sandra: Oi Beth, que prazer em falar com você e com o seu público novamente! É sempre uma alegria poder dividir um pouquinho da minha trajetória com vocês. Muita coisa aconteceu de positivo desde o lançamento do livro. Tive a oportunidade de ser convidada para vários congressos no Brasil e no exterior, fiz palestras em escolas e universidades e, principalmente, fiquei muito feliz por poder levar o nome da nossa Literatura para um número maior de leitores e entusiastas – pessoas que nunca tinham lido um livro passaram a ter curiosidade por conhecer Machado de Assis e sua obra. Isso, para mim, não tem preço. É para isso que continuo a lutar por nossa Literatura.  

Beth: Você falou em Machado de Assis e seu livro é sobre as cartas pessoais dele. Por que, em um país com tantos autores de renome, Machado foi o escolhido?  

Sandra: Na verdade ele, desde a época da escola quando li Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado passou a ser meu escritor preferido. Comecei a ler tudo sobre ele: seus romances, seus contos, suas crônicas, suas poesias e, bem mais tarde, conheci suas peças teatrais e seu trabalho como crítico literário. Sempre o considerei um autor à frente do seu tempo mas, naquela época, não tinha a maturidade necessária para compreender todas as nuances, as ironias e o sarcasmo presentes em sua obra. Ele era extremamente crítico a respeito de temas muito caros àquela sociedade, como a Escravidão, a desigualdade social, a corrupção e a vida de aparências pretendida e sustentada por aquela mesma sociedade oitocentista do Rio de Janeiro. Foi somente com a releitura de suas obras e uma compreensão mais contextualizada a respeito de sua realidade, é que pude entender a grandiosidade de sua Literatura – não à toa, considerada uma das mais ricas e complexas do mundo moderno.  

Beth: E foi esse seu fascínio pelo escritor que a fez buscar o homem escondido em suas cartas pessoais?  

Sandra: Exatamente. Quanto mais eu lia sua obra e a contextualizava com as dificuldades que ele enfrentava, mais curiosidade eu tinha acerca deste escritor. Um negro, filho de escravo, morador de uma senzala no Morro do Livramento, sem nunca ter frequentado a escola (este, infelizmente, não era um direito reservado a pessoas como ele na época), ter sido jornalista e diretor dos maiores jornais do país – como o Diário do Rio de Janeiro e até mesmo o Diário Oficial do Império e tornar-se o maior escritor da nossa Literatura, chegando a ser eleito o Presidente da Academia Brasileira de Letras. Para alguém como ele, alcançar tantas conquistas em uma sociedade tão preconceituosa e excludente, era algo que de fato me intrigava. Eu queria saber como se ocorrera essa caminhada. E, curiosamente, as cartas permaneciam na obscuridade da interpretação. Em alguns momentos, parte delas foram compiladas em livros – mas nunca foram analisadas dentro de um fluxo dialógico, no qual você pode ler as cartas enviadas e recebidas, para entender, de fato, a complexidade do texto epistolar – quem escreve uma carta espera uma resposta. Foi então que descobri facetas extraordinárias e inéditas a partir do estudo aprofundado das mais de 1200 cartas que consegui reunir para esta pesquisa. Por este motivo, o tom autobiográfico da obra.  

Beth: Então você descobriu um Machado que poucos conhecem através de suas próprias cartas. Isso é fantástico. E eu me lembro que você disse que a ideia inicial não era publicar um livro, mas escrever sua Dissertação de Mestrado.  

Sandra: É verdade. Este foi o tema de minha Dissertação para a Universidade Aberta em Lisboa, Portugal. E foi este trabalho que despertou a curiosidade do público português para o autor. Recebi uma carta de honra ao Mérito pela pesquisa e fui convidada pela Editora Chiado Books a lançar meu livro. Foi assim que tudo começou.  

Beth: E ano passado você teve a honra de participar da Bienal Internacional do Livro no Rio. Como foi essa experiência?  

Sandra: Foi um momento incrível. Eu, como professora, já fui inúmeras vezes à Bienal com meus alunos. Nunca imaginei estar ali, no stand de uma editora, autografando o meu próprio livro. É uma daquelas cenas que você não esquece jamais.  

Beth: E eu percebi que você vem investindo também em suas redes sociais. Seu Instagram (@sandrabbz13) tem quase 30 mil seguidores. Este tem sido um bom canal de divulgação para seu trabalho?  

Sandra: Na verdade, eu uso mais minhas redes para interagir com este público que acompanha meu trabalho – seja alunos e ex-alunos, leitores, pessoas interessadas também no ser humano por trás da profissional. Com eles divido parte da minha rotina, das minhas viagens, daquilo que ouço e leio, enfim, é um excelente canal de comunicação.  

Beth: E agora, além de tudo isso, você faz parte da nossa equipe! Sua estreia como entrevistadora foi um sucesso, tivemos a honra de ter em nosso programa um artista internacional, o músico Frank Valchiria. Como foi para você encarar este desafio?  

Sandra: Para mim, tudo ocorreu de uma forma muito simples. Gravei a entrevista da minha casa e ele, de sua casa em Amsterdam. Foi como um bate-papo entre amigos e eu adorei a experiência. O Frank é uma pessoa muito carismática e generosa. Foi uma alegria conhecer um pouco mais sobre ele e ver tantos fãs mundo afora assistindo à entrevista pelo meu canal no youtube (Sandra Brito Writer & Traveller).  

Beth: Então, certamente teremos outras! Estamos aguardando!  

Sandra: Sim, já temos mais duas atrações internacionais que aceitaram nosso convite. Mas por enquanto é surpresa. Vamos aguardar!  

Beth: E agora, para terminar, fale um pouquinho sobre o Trilhas Literárias.  

Sandra: Foi com imensa surpresa e alegria que recebi e prontamente aceitei seu convite. A Literatura é algo que não cabe em mim, preciso levá-la cada vez mais a outras pessoas. A ideia do quadro é fantástica e foi pensada com muito carinho. A cada semana, falaremos um pouquinho sobre um grande nome da Literatura. Darei preferência a escritores da nossa Língua Portuguesa, mas iremos, vez ou outra, falar também sobre nomes importantes que as pessoas merecem conhecer mais a respeito. Ao final, fazemos uma pequena leitura e comentários sobre uma determinada obra. O primeiro, sobre Vinicius de Moraes, foi um sucesso, o que me deixou muito feliz e satisfeita. Só posso agradecer a você por essa oportunidade fantástica.  

Beth: Então não percam, toda quarta-feira, dentro do Programa Original o quadro Trilhas Literárias, com Sandra Brito.

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