Observa Infância aponta queda na adesão a vacinação em crianças no Brasil

Um levantamento realizado pelo programa VaxSim, por meio dos dados do Programa Nacional de Imunização (PNI), e do Sistema de Informações Sobre nascidos Vivos (Sinasc), aponta que a cobertura vacinal em crianças tem caído na última década no Brasil. O alerta foi divulgado pelo Observatório de Saúde da Infância. O anúncio preocupa especialistas, visto que algumas doenças antes erradicadas no país, agora têm apresentado novos casos.
De acordo com o relatório, doenças como sarampo, erradicada oficialmente em 2012, foi responsável por 26 óbitos nos últimos três anos. Apesar de parecer um número pequeno, quando comparado ao período entre 2000 e 2017, acendem uma alerta, pois apenas um óbito foi contabilizado no período. Devido aos surtos em diversos estados em 2018, o Brasil perdeu em 2019, o Certificado de Pais Livre do sarampo. A vacina contra o vírus é aplicada em duas doses, sendo a primeira ao completar um ano de vida e a segunda, após um intervalo de 90 dias. Em 2021 a vacinação atingiu pouco mais de 50% do público alvo.
A poliomielite também apresentou queda na cobertura vacinal. No ano passado, apenas 75% do público alvo foi imunizado e apesar de não haver registros da doença, a coordenadora do Observa infância e responsável pelo Vaxsim, Patrícia Boccolini, relata os riscos se o índice permanecer abaixo da meta. “A cobertura vacinal contra a poliomielite foi a menor dos últimos 25 anos: somente 75% da população recebeu o imunizante e a pólio só foi erradicada por conta de uma campanha de vacinação em massa. Há um risco real para que essas doenças voltem a ser registradas, caso não haja uma melhora da cobertura vacinal”, informou. O índice de cobertura contra a difteria também atingiu 75% no ano passado.
Motivos
O investimento em campanhas massivas de vacinação é um dos motivos para a queda na cobertura vacinal, no entanto, a insegurança alimentar, que atinge 30% dos brasileiros, a complexidade do calendário vacinal, além dos horários de funcionamento dos postos de saúde também impactam no índice negativo. “ A pandemia também agravou a situação. Pessoas com insegurança alimentar necessitam de questões imediatas. Nesses casos a pessoa muita das vezes não tem dinheiro para ir ao posto. Quando se discuti a questão das campanhas de imunização em crianças, atualmente são 20 vacinas somente nos dois primeiros anos de vida, isso pode confundir a cabeça da mãe ou o pai, já que há variação de doses e intervalo entre as doses.”, concluiu a coordenadora. Ampliar os horários de vacinação para o fim de semana é uma alternativa para que responsáveis levem os filhos para se vacinarem.
O Observa Infância realiza pesquisas científicas relacionadas a saúde de crianças até os cinco anos e tem o objeto de facilitar e ampliar os dados obtidos nos sistemas nacionais de informação.
Por Richard Stoltzenburg/Foto: Getty Images