MPRJ realiza vistoria na região do Floresta em Petrópolis

A última das oito vistorias do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) foi realizada nesta quarta-feira (17), na região do Floresta, em Petrópolis. As vistorias acontecem para levantar os principais problemas da região, por meio das queixas dos moradores. A partir daí, o Ministério Público vai traçar ações para auxiliar na prevenção a desastres nestas regiões, encaminhando as demandas das comunidades para a Promotoria de Justiça, para que seja traçado um plano de trabalho para cada localidade.
“Aqui não está muito diferente do que foi visto nas demais áreas afetadas pelos desastres. Mas o que chama atenção é o Morro do Calango. Ele tem uma vulnerabilidade social muito grande e exige a permanência do pode público neste território”, explicou a Procuradora do MPRJ, Denise Tarin. “Já vou dar este destaque no nosso relatório. O que a gente percebe é um alto índice pluviométrico, pessoas vivendo em áreas de risco e, sem sombra de dúvidas, o Floresta fecha a nossa visão das áreas mais afetadas pelas chuvas”, continuou.

A região do Floresta foi uma das mais castigadas pelo temporal em Petrópolis, e contabilizou três grandes deslizamentos. Não houve vítimas fatais, mas aproximadamente 95 famílias ficaram desalojadas. Houve deslizamento nas vias de acesso ao bairro e na conexão com outras regiões como o Esperança e o Quissamã, deixando os moradores do Floresta isolados. A situação no local só não foi pior devido a um trabalho que é realizado pelos próprios moradores, e que salvou mais de 90 vidas no dia do desastre.
Durante a chuva do dia 15 de fevereiro, a associação de moradores reuniu voluntários para realizarem o sistema de alerta e alarme por apitos, mobilizando as famílias para os quatro pontos de apoio da localidade. Ao todo, foram 16 apitadores auxiliando os moradores e os direcionando para locais mais seguros. A região contou com duas igrejas e duas escolas como ponto de apoio. “A gente preservou vidas”, explicou Wellington Silveira, agente regional, que vive na região.
O treinamento foi solicitado pela própria associação de moradores, assim como um mapeamento das áreas de risco da região. Este treinamento realizado pela Defesa Civil é uma ação do Núcleo Comunitário de Defesa Civil (NUDEC), para preparar os moradores para situações de urgência. A medida foi iniciada três meses antes da tragédia. No dia 15 de fevereiro, 95 famílias, que juntas totalizam cerca de 200 pessoas, foram direcionadas para os pontos de apoio, pelos próprios moradores e ficaram foram de perigo.
“No dia da chuva a gente acionou a comunidade por meio destes apitos. Aqui a gente teve vidas que são testemunhas que esse sistema funciona. A Defesa Civil estava ilhada e não conseguiu chegar até aqui, então tivemos que agir por conta própria e preservar a vida desses moradores”, explicou a Coordenadora do NUDEC Floresta, Michele de Souza.
O mapeamento das áreas de risco, feito em 2021, apontou onde estaria o perímetro vermelho, ou seja, a região de maior risco, auxiliou a Defesa Civil a reconhecer quais as casas precisariam de interdição após as chuvas de 2022, com a demarcação dos trechos de risco remanescente. Este mapeamento apontou para os voluntários quais eram as famílias que precisariam de ajuda na chuva de fevereiro. Um dos maiores problemas da região é a ocupação desordenada. Por ali, muitos moradores não tem escritura das casas, nem título de propriedade, e muitas delas não estão em terrenos seguros.
“Para reconstruir primeiro tem que planejar. Temos que pensar a cidade que queremos. Petrópolis com a alta declividade vista em todas as visitas, são muitas casas sendo construídas em áreas de mananciais e nos caminhos das águas. Precisa ter um planejamento do poder público para que Petrópolis tenha a possibilidade de se tornar uma cidade segura e sustentável”, explicou a Procuradora do MPRJ.
Seis meses depois da chuva, a região ainda precisa de atenção. Os moradores pedem ao poder público, pelo menos, a realização de seis contenções principais, nas ruas Floresta, Alberto Martins, Henrique Paixão, Glass Veiga, Fabiano Percia Gomes e na Norival Castro Gomes, já que o período de chuvas está voltando.
“Para diminuir esse risco que nos cerca, tem que haver uma participação do poder público. A rua foi limpa, tiraram os escombros mas as obras de contenção não foram iniciadas, seja pelo Estado ou pela Prefeitura. Estamos esperando respostas”, explicou Wellington.
Foto e texto: Raphaela Cordeiro