Passageiros enfrentam transporte público precário em Petrópolis

Quem depende do transporte público em Petrópolis, tem de lidar com a precariedade do serviço em diversas linhas. Ontem (22), usuários do coletivo 421 – Bairro Mauá, da empresa Petroita, no horário das 6h30, enfrentaram um susto na viagem. O ônibus ficou cheio de fumaça e o medo era de um princípio de incêndio. O motorista precisou parar na Ponte Fones e transferir os passageiros.

A reportagem do Correio apurou, com base em dados do Detran, que o veículo de prefixo 2107 teve o último licenciamento feito em 2018. A data de fabricação que consta no documento é de 2011. Uma resolução da CPTrans determina que veículos do tipo padron e convencional tenham idade máxima de 11 anos e os micro-ônibus, não passem de oito.
O Correio também levantou a placa de outros 40 veículos das cinco empresas que atuam na cidade. Destes, 15 estão com o licenciamento atrasado, feito até 2021, segundo dados do site do Detran. Um veículo da Cidade das Hortênsias, por exemplo, também teve o último realizado em 2018 e o ano de fabricação é 2010. Outros seis veículos só realizaram o procedimento em 2022 e precisam atualizar neste ano.
Ainda do total de 40 veículos, pelo menos, nove estão com idade acima da prevista na resolução da CPTrans. Na Petroita, foi encontrado um veículo fabricado em 2008 e com o último licenciamento em 2019. Outros 13 chegam à idade máxima determinada pela companhia neste ano.
Passageiros reclamam
Na terça-feira (21), uma passageira enviou à redação imagens do ônibus que fez a linha 450 – Bingen x Alto da Serra por volta das 6h40. O coletivo estava com o assoalho cheio de avarias. “Eu acho um desrespeito”, reclamou a jovem, que não quis se identificar.
A inspetora dimensional, Jaqueline Barcelos, mora no Meio da Serra. Ela diz que não sente segurança em utilizar o transporte coletivo.
“As condições estruturais dos veículos vão de mal a pior. Alguns frequentemente sujos e com bancos e janelas quebradas. Não existe manutenção para conservar os ônibus. Isso é ruim para os passageiros, porque a passagem está aumentando, mas a qualidade do serviço só abaixando”, lamentou.
Lei não é cumprida
Em setembro do ano passado, foi sancionada uma lei que prevê que os ônibus da cidade sejam obrigados a afixar placa ou cartaz com informações sobre o ano de fabricação, início e término do tempo de uso. A ideia era que facilitasse a fiscalização do cumprimento da resolução da CPTrans. Porém, passados seis meses, a lei ainda não é cumprida.
A Prefeitura disse que cobra que as empresas de ônibus mantenham os veículos em condições de atender a população com segurança. Informou ainda que a CPTrans realiza fiscalizações periódicas nas garagens e que as irregularidades geram relatórios e multas, quando os problemas não são solucionados.
O município ainda disse que cobra formalmente das empresas que enviem a documentação dos veículos, sendo a entrega uma obrigação contratual.
O Setranspetro não respondeu o contato da reportagem até o fechamento.
40 ônibus foram pesquisados pela reportagem
- 15 veículos estavam com licenciamento vencido até 2021 (Cidade das Hortênsias, Petroita e Cascatinha)
- 6 veículos tiveram o licenciamento feito em 2022 e precisam renovar em 2023 (Cidade das Hortênsias, Petroita e Cidade Real)
- 9 veículos estão com idade acima da prevista pela resolução da CPTrans (Cidade das Hortênsias, Petroita e Cascatinha)
- 13 veículos atingem, neste ano, a idade máxima prevista pela resolução (Cascatinha, Cidade Real, Turp e Petroita)
Posicionamento Setranspetro
Em nota, o Setranspetro disse que todas as empresas de ônibus ainda enfrentam os reflexos da “grave crise econômica e financeira”, gerada pela pandemia e, logo depois, pelas chuvas de 2022. Com isso, optam por investimentos dos custos operacionais, para manter o emprego dos rodoviários e a operação dos coletivos, “impedindo um total colapso”.
O sindicato ainda diz que as empresas se esforçam para renovar a frota, apesar das dificuldades alegadas. Diz que as empresas Petro Ita e Cascatinha foram as mais atingidas pelas chuvas e já adquiriram 25 ônibus novos e seminovos, operando em 17 comunidades.
Sobre um dos ônibus citados, cujo ano de fabricação é 2008, a Petro Ita disse que se trata de um veículo reserva, que foi acionado apenas para atender a uma viagem pontual.
O Setranspetro concluiu dizendo que as empresas possuem “total interesse” em manter em dia o licenciamento e emplacamento dos ônibus, para evitar multas e transtornos. Disse também que os adesivos para o cumprimento da lei sancionada no ano passado estão sendo providenciados “o quanto antes”.
Por Wellington Daniel, Guilherme Mattos e Larissa Martins/Foto: divulgação