Brasileiro acredita no empreendedorismo, mas falha no dia a dia da gestão empresarial

Por mais que o Brasil tenha registrado a abertura de 3.838.063 novas empresas em 2022, o número de fechamento também é imensamente significativo e foi de 1.695.763 empreendimentos. No último ano, no que diz respeito a abertura de empresas, houve retração de 4,8% em relação a 2021, mas aumento de 14,1% em comparação com 2020, de acordo com o Mapa de Empresas, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).
O Boletim do Mapa de Empresas foi atualizado no início do ano e divulgado pelo Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (DREI) e ainda ressaltou que as atividades econômicas mais exploradas pelas empresas abertas são as de comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios; promoção de vendas; cabeleireiros, manicure e pedicure; preparação de documentos e serviços especializados de apoio administrativo; e obras de alvenaria.
Para o consultor em negócios Mairom Duarte, da Mairom Consultores, um dos principais motivos para empresas de pequeno porte encerrarem as atividades não é pela questão da qualidade dos produtos ou serviços oferecidos, mas pela gestão inadequada.
Mairom acredita que uma empresa é toda instituição que venda produtos ou preste serviço de forma autônoma, onde o empreendedor é o próprio patrão. “Dependendo do tamanho da estrutura do empreendedor é que vai se dando os nomes de MEI, micro e pequena empresa. Mas todas elas no conceito são iguais e as técnicas de gestão administrativas a serem aplicadas são ou deveriam ser as mesmas. É interessante encontrar empreendedores que tem MEI e não se acham empresários. Um empreendedor que tem uma sala de depilação, por exemplo, é um empresário. O que diferencia uma empresa da outra é o volume de transações que acontece em cada uma. Esse é o problema e é aí que mora o perigo”, explicou o consultor.
O especialista explica que uma questão relevante é que o empreendedor está acostumado a gerir a casa e, de forma geral, usa no novo negócio os mesmos conceitos da casa, como trabalhador assalariado, que em via de regra tem receita uma vez por mês, o salário, e os custos são, normalmente, os mesmos e geralmente em datas específicas. Mairom ressalta que dessa forma é complicado administrar as coisas. “Quando o cidadão passa a empreender as coisas são diferentes. As receitas, ou seja, as vendas, entram picadas e as despesas ocorrem em vários dias do mês, boa parte delas em datas diferentes cada mês”, pontuou.
Também é importante ponderar que outro problema nas empresas de pequeno porte é a questão de precificação. “A questão não é apenas o valor da venda em si, mas o quanto deste valor pode-se tirar da empresa. Uma parte desse valor precisa ficar na empresa para a compra contínua de matérias-primas, mercadorias ou despesa para garantir a prestação do serviço. Parece simples e óbvio, mas no dia a dia das empresas de pequeno porte, este é um erro recorrente dos empreendedores. E, por conta desta dificuldade, de colocar o preço, em seguida vem a questão de quanto tirar de recursos da empresa para a vida”, explicou o especialista.
Mairom ensina para seus clientes que se os empresários não entenderem que receitas e despesas sempre vão estar espalhadas no mês e que esta questão precisa estar associada ao valor correto de retirada da empresa, com certeza o empreendedor vai começar a se perder e a ter dificuldades de manter o negócio.
De acordo com Mairom uma das primeiras coisas que ele percebe, quando o empreendedor se vê em dificuldades financeiras é abusar do cartão de crédito, abusar do cheque especial que o banco disponibiliza, pedir empréstimos ou deixar de pagar impostos.
“O empreendedor sente no bolso as dívidas de cartão e com os bancos, já as dívidas fiscais ficam escondidas, mas elas um dia aparecem. Geralmente as dívidas fiscais surgem aos olhos do empreendedor de duas formas: quando precisa pedir algum empréstimo ou quando o contador avisa que a empresa entrou na dívida ativa. Boa parte das vezes essas coisas acontecem por falta de organização da empresa e do empreendedor. São as ditas técnicas de gestão administrativas que não foram aplicadas no início do empreendimento. É muito triste, mas no dia a dia é comum ouvir do pequeno empreendedor que eles estão no início e que por isso não existe tempo para uma gestão adequada”, frisou Mairom.
O especialista explica que técnicas de gestão obrigam a empresa a se organizar, pois em via de regra afetam todo o funcionamento da empresa e todos os colaboradores. Até o mais simples colaborador precisa cumprir o seu papel na engrenagem da gestão, mas os resultados são visíveis e o maior deles é a diminuição das chances de falência.
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