Despreparo de Petrópolis fica evidente após as ocorrências de chuva na madrugada de terça-feira

Primeiro alerta de chuva enviado pelo órgão foi às 04h27 de terça-feira (17), quando já estava chovendo
Gabriel Faxola
Trovoadas, ventos intensos e muita chuva, essa foi a madrugada de terça-feira (17), em Petrópolis. Segundo a Defesa Civil, nove ocorrências foram registradas, e não houve vítimas. Entre elas estão: um alagamento no Quissamã; quedas de árvore no Bingen e Carangola; riscos de queda de árvore no Independência, Mosela e Quarteirão Ingelhein; uma ocorrência de afundamento no Caxambu; e duas avaliações de risco estrutural, na Mosela. Os maiores acumulados pluviométricos em 24h foram registrados no Bingen, 81,4 mm.

Enquanto as primeiras gotas começaram a cair na madrugada, os moradores se viram desprevenidos. A Defesa Civil só emitiu um alerta às 04h27, quando a chuva já causava transtornos e riscos inundações na cidade. Segundo o órgão, não havia previsão de chuva. Mas na segunda-feira (16), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) havia emitido alertas sobre a previsão de chuva, com avisos de tempestade, contrariando as afirmações da Defesa Civil de Petrópolis que alegava não haver risco de precipitação.
Na Rua Mosela, os moradores ficaram assustados após parte do muro do depósito da Companhia de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep), ceder durante as chuvas de terça-feira (17). Segundo o vereador Domingos Galante, as dragagens realizadas nos rios da região comprometeram a estrutura de imóveis da localidade. “No domingo, o muro da casa do morador que tem uma casa do outro lado do rio caiu por conta da dragagem mal feita, a profundidade foi grande e não houve escoramento. Já cobramos as obras de contenção há meses, e infelizmente isso não aconteceu. Recebemos mensagens de moradores informando estar preocupados porque há relatos de outras localidades que também passaram pelo serviço de dragagem e aparentam estar comprometidos”, explicou Galante.
O vereador Eduardo do Blog também tem cobrado ações efetivas por parte do governo municipal. “A falta de ações de prevenção e obras estruturais marcaram mais um dia de chuva do município. Até hoje, o governo do prefeito Rubens Bomtempo fez muito pouco para melhorar a vida da população que está sofrendo e com medo”, disse o vereador.

Audiência Pública
No mês de setembro foi realizada uma audiência pública, na Câmara Municipal, junto ao senador Carlos Portinho e o secretário estadual Hugo Leal, com o objetivo de discutir com especialistas a importância de adquirir um novo radar com tecnologias avançadas. Mas, nenhum representante do governo municipal esteve presente. Segundo o vereador Hingo Hammes, o município não possui equipamentos que possibilitem previsões meteorológicas precisas, que envie alertas com antecedência. “Uma das alternativas levantadas durante a audiência foi a integração de dados de radares existentes no entorno da cidade, que poderiam, em curto prazo, garantir informações mais precisas às autoridades municipais locais. Isso até a aquisição do radar próprio. Ouvindo especialistas da Aeronáutica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e também do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) percebemos que, se os dados de todos os radares já existentes forem integrados, já teremos dado um grande passo. A partir daí poderemos trabalhar num retrato mais fiel à realidade em relação às nossas demandas tanto de equipamentos quanto de inteligência para análise dos dados”, disse.
O sentimento de insegurança
Para os moradores de Petrópolis, a chuva de terça-feira (17) é um lembrete da importância de medidas de prevenção e infraestrutura para que o município não sofra mais uma vez com uma nova catástrofe ambiental. Uma lojista que preferiu não se identificar e possui um quiosque na Rua Dezesseis de Março diz se sentir insegura com as chuvas que estão por vir. “Já tive perdas durante as tragédias em 2022, e acredito que falta seriedade por parte do Prefeitura de Petrópolis diante do problema, tendo em vista muitos pontos frágeis ainda estão em meio a destruição que ocorreu ano passado”, explicou ela.
Monique Sales de Moura, moradora do Sargento Boening, teve a casa alagada com a chuva de 2022 e presenciou o desabamento das casas de vizinhos. Durante as fortes chuvas, que ocorreram na madrugada de terça-feira (17), ela relembrou os sentimentos de medo e insegurança que teve durante a tragédia. “Nos sentimos vulneráveis diante desta situação. As chuvas de verão estão chegando mais uma vez e o governo não faz nada para nos ajudar e assegurar que estamos seguros”, disse Monique Sales. Segundo a moradora, durante a chuva da madrugada de terça-feira (17), as sirenes de alerta da Defesa Civil não foram acionadas, o que a fez lembrar do dia da tragédia onde o mesmo ocorreu.
Resposta da Defesa Civil
Em nota, a Defesa Civil de Petrópolis informou que o alerta do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) ao qual a reportagem se refere é genérico sobre a Região Sudeste e não trata do município de Petrópolis em específico. Não houve previsão de chuva especificamente para Petrópolis.
As equipes da Defesa Civil monitoram 24 horas por dia as condições do tempo da cidade, e estavam de prontidão no Cimop durante a madrugada. A Defesa Civil emitiu os alertas necessários de acordo com os protocolos estabelecidos. Foi assim, por exemplo, que procedeu ao fechamento da Rua Coronel Veiga, por meio das cancelas eletrônicas – medida de proteção implantada pela atual gestão. No caso do sistema de sirenes, eles não foram acionados porque não foram atingidos os índices para acionamento. O protocolo de acionamento está disponível no Plano de Contingência, no site da Prefeitura de Petrópolis.
A Defesa Civil permanece monitorando as condições do tempo e poderá emitir alertas, informes ou atualizações a qualquer momento.